segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Kuduro eletrônico dominará o mundo

E não se dançou outro ritmo nos festivais de verão europeus, principalmente os realizados nos arredores de Lisboa, encerrados na semana passada, que não o Kuduro Progressivo do Buraca Som Sistema.

Trata-se de uma versão turbinada, mais sintética e de batida eletrônica mais forte ainda em relação à do Kuduro que conhecemos, nos apaixonamos e tentamos dançar em Luanda no ano passado - se bem que só o Candongueiro aprendeu.

No máximo, os brazukas e tugas encostam os joelhos uns nos outros, e só. No Chill Out e no Palos (se tiver reaberto), deve tá a cuiar... Na Gala da Chocolate já tocou no ano passado.

É uma força assombrosa o impacto desse ritmo nos ouvidos de quem não está acostumado, à primeira "oiçada". Simplesmente lisérgico, até. Portugal inteira cabulou e no ano que vem, no verão, certamente será a vez de todo o Brasil. Um carnaval do Kuduro, não haverá trocadilho melhor para a tv brasileira divulgar.

Saí pesquisando alguma coisa sobre o Buraka Som Sistema, cujo vídeo mandado pelo Candongueiro, publicado acima, é uma apresentação do grupo ocorrida na Tuga. Observem a catarse do público.

O Buraka Som Sistema nasceu na freguesia da Buraca, em Amadora, nos arredores de Lisboa, e o conceito de Sound System, como sabemos (ou os que lembram vagamente...), é oriundo da Jamaica. Os seus membros são Lil'John, Riot e Conductor. Têm como colaborador frequente Kalaf. Estilosos totallies.

O primeiro sucesso foi a música "Yah!", em 2006, com a participação de Petty, Kalaf e Bruno Silva (Crushing Sun), seguindo-se novo sucesso com "Wawaba".

Em 2008, os Buraka Som Sistema lançaram a canção Sound of Kuduro. Esta conta com a participação de M.I.A, DJ Znobia, Saborosa e Puto Prata, sendo este o primeiro single do álbum Black Diamond, lançado no verão de 2008 e agora estourado. Saudades dos cartazes pregados pelas ruas, anunciando as festas, geralmente no Cine Atlântico...

Se a sua conexão em Luanda ou em qualquer outro lugar é lenta, deixe o video acima baixar inteiro primeiro, afaste as poltronas, aumento o volume ao máximo e “wegue wegue”….e nem confiança para quem não entender o que eles estão cantando...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Fernando Baião é um cara muito giro

E então finalmente nos encontramos, no bar do Hotel Fasano, em São Paulo, no final da tarde da quinta-feira, 20, a mesma em que um dilúvio desabou sobre a megalópole e chegou até a faltar eletricidade em alguns pontos da maior cidade brasileira…

Fernando Baião, morador dessa Casa, dono desse texto que me chamou a atenção na primeira vez em que bati os olhos, autor da belezura de livro recém-lançado em Lisboa cuja capa reproduzo acima. Sobre o livro em si, que vou falar mais ao fim do post, só queria dizer por hora que li todo em menos de três horas, no avião, de tão eletrizante que é…

Mas vamos ao Baião. E aqui não vai nenhuma rasgação de seda, especialmente porque os amigos sabem a pessoa grossa e mal educada que sou. Pessoa queridíssima, parece que já o conhecia há anos. Dono de uma cabeça, uma memória sobre Angola e Brasil, um repertório cultural e uma simplicidade que poucas vezes vi em figuras muitas por aí… apesar do momento pessoal por que passa, carrega consigo uma alegria que valha-me Deus.

Engraçada essa coisa de ter um amigo virtual e depois ir conhecê-lo pessoalmente. Há meses, planejávamos nos encontrar, Fernando Baião e eu, além de toda a malta de personagens que circunda esse blog, nomeadamente o F., a Branquela, a Ju, o Candongueiro, o Greg, e o Zé, que está lá em Maputo.

Pois dessa vez deu certo: na mesma cidade e na mesma data, pudemos passar mais de três horas – isso mesmo, três horas – de frente um pro outro, com um copo de água tônica a nos separar, falando da vida, desse blog, dos encontros e desencontros, do que é o Brasil com e sem Angola e Angola com e sem o Brasil. Estava acompanhado do filhote que acabara de fazer anos e da esposa que, olhem só, mora na mesma rua onde um dia morei.

Há coisa de dois meses, ele havia me mandado Kimalanga, como relatei aqui. Levei o livro para São Paulo para mostrar que estava lendo mesmo e ele me presenteou com mais quatro: um para o A.M., leitor fiel desse blog, órfão de Luanda depois de três anos, que também agora vive em SP e que também encontrei, numa noite memorável, o Alex, o Fernando Alvim, outra figura querida que estava em São Paulo e não encontrei, por força de agendas e dessa cidade tão grande, tão intensa.

Um homem de letras, é isso que o Baião é. Nada de ecomista ou coisa que o valha ligada a números.

Kimalanga conta a história de Zé Paulino (olha só!, João!), um angolano de meia idade que ficou mbaku, impotente, broxa mesmo como a gente diz no Brasil. O pau não subia mais, de jeito nenhum, tivesse ele a catorzinha que tivesse na cama. Numa luta desenfreada para fazer seu Zezinho voltar à ativa, o homem recorre a Pau de Cabinda, vai à Londres e Àfrica do Sul em busca de tratamento, ensaia vir ao Brasil procurar pai-de-santo…até que…

Como pano de fundo, uma narrativa telúrica, adocicada, bem humorada e antes de mais nada realista sobre o que é tornar-se homem de negócios em Angola depois da gerra de libertação, da guerra civil toda, da pacificação e, claro, conviver com a corrupção, a propina, o luxo e o lixo de Luanda, a falta de perspectiva de alguns jovens, a vida e a morte, a sobrevivência e, claro, o amor. O livro, no meu entender, é antes de mais nada sobre o amor de Paulino por sua esposa, uma senhora gorda de mais de 100 quilos que passa o dia no sofá, vendo novelas brasileiras e tomando cerveja. Imensa, rotunda, praticamente uma Wilza Carla do Largo da Maianga.

Paulino, apelidado de Kimalanga (hiena, como explica o autor num pequeno dicionário ao final do livro), é para muito além do simples animal com seus instintos primitivos, é um personagem ao qual a gente se apega, que faz e desfaz, que filosofa, que a gente pensa que vai prum lado e depois vai para outro… e, no final, o Baião…ah, o Baião, se te pego de novo por aí…

Imaginem o que é um homem angolano ficar impotente, minha gente!

Esse relato parte, em certa medida, do mesmo mote de Predadores, de Pepetela, comentado aqui. Mais gostoso talvez porque menos despretencioso, uma literatura feita não para marcar um tempo histórico, mas retratar os hábitos culturais de um povo que nasce, cresce, descobre a sexualidade, casa, tem filhos, morre e “vai a enterrar” comemorando a vida. É isso que o angolano faz, todo o tempo, como pude comprovar vivendo em Luanda durante seis meses e no encontro de três horas como o agora amigo de carne e osso Fernando Baião.

Eu não sei como nem com ajuda de quem (porque o livro ainda tem problemas seriíssimos de distribuição em Luanda), mas você tem que lê-lo A-GO-RA!, como diria um jornalista acolá.

O próximo encontro já está pré-marcado: deve ocorrer numa cafeteria qualquer de Lisboa, no Três em Um da Antônio Barroso, no Hotel Fasano, de novo, ou na cidade dos Reis Magos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Desta Angola que eu amo


Hoje não vos venho contar histórias de tempos outros, vividos por inteiro nesta terra, nem da beleza que guardo dos olhares registados na infância e momentos únicos de uma juventude recheada de outras estórias.
Quero falar-vos simplesmente do que encontrei por estes dias em Luanda.
Cidade fisicamente diferente. Zonas e edificios novos muito bonitos. E mil e uma histórias de vida marcadas por outros ritmos e cultura(s).
Luanda. A baía. Sempre a baía. Lá atrás da Casa do Desportista. Acolá, vista da marginal. Ali da varanda do Baía. Sempre especial o que evoca em mim.
A barra do Kwanza. A praia do Bispo. A Ilha. Luanda Sul. Zonas novas lindas, tudo transpira um novo ciclo de vida. O país está em construção.
Luanda apresenta-se qual senhora amadurecida. Revela sinais dos seus segredos a quem a conhece, oferece carinho na sua Casa.
É preciso conhecer a magia de alguns recantos para se compreender, realmente, a ternura e doçura que encontrei nalguns gestos surpreendentes nesta Angola que eu amo.

Colírio para os olhos...



E a Miss Angola 2009, hein?

Aqui ela caminha atras da Miss Brasil Larissa Costa que, aliás, é minha conterrânea e só não publico foto ao lado dela aqui porque devo ter a metade da altura da moça mais bonita do Brasil...

Não sabemos o que essa albanesa faz no meio das duas beldades, assim, tão desconxavida...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Os Simpsons desembarcam em Angola

Homer, Marge, Lisa, Maggie e Bart Simpson: tão a bater!

Imaginem todos a viver ali pelo Kinaxixi, comer funge na Ilha, passar horas para chegar no trabalho no engarrafamento da rotunda do Gamek, fazer compras no Shoprite do Shopping de Bellas..

Ehahaha, pois é, a família mais famosa do mundo vai ser exibida em Angola pelo canal africano Bué. Para assinalar a efeméride, a agência de propaganda Executive Center caracterizou o grupo como mwangolés...

É esperar para que algum episódio seja ambientado lá e, claro, dublado por alguma personalidade famosa, como a Leslie Pereira, o Yuri da Cunha, a Sônia Boutique...

Ficaram muito, muito giros....ainda não sei em que dia "vão a estrear-se em grande". 

Menina de Angola, à postos (passadinha rápida no Brigadeiro hoje...huuuummm)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Festinha de Aniversário, e com Luanda no meio

E como hoje o X faz aniversário e quem for leitor do blog e estiver em São Paulo, naquelas férias de 15 dias, pode comemorar conosco amanhã, sábado, segue o flyezinho da festa que, pasmem, terá um DJay chamado Luanda.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Próxima reunião de Condomínio...



E está chegando a hora...
No próximo final de semana, em São Paulo, não a de Luanda, mas a de Piratininga, quase todos os moradores da Casa vão se reunir, incluindo o Baião, vivas!, e todos que moram do lado de cá. Muitas lembranças, certamente, surgirão, aqui e acolá, daqui.
Um skyline de São Paulo, da minha antiga janela, está abaixo. Devemos ser muito loucos mesmo para amarmos essa cidade....Menina de Angola, prepare os lenços para chorar...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ainda, a chaga maldita da escravidão (ou escravatura), pela pena de Machado de Assis



Não temos mais o que discutir: Joaquim Maria Machado de Assis é, sem sombra de dúvidas, o maior escritor em Língua Portuguesa de todos os tempos. Que me desculpem os Queirozeanos que visitam o blog, mas o "Bruxo do Cosme Velho", como ficou conhecido o autor de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", entre tantas outras jóias, é o maior escultor da nossa língua em comum. 

Hoje a maioria dos brasileiros precisa ler Machado com um dicionário, pois ele escreve como se visse na Tuga, salpicando os textos com "fumos", "pequeno almoço", "ao pé de si" e por aí vai. Uma delícia.

Ontem, aproveitando um dia de pura preguiça, fui à uma livraria e comprei essa caixa com três livros da foto acima, que contém os três principais romances de Machado. Fazia décadas que havia lido-os e, como é sempre bom reler um livro com o peso dos anos, armei a minha rede indígena e comecei a viagem por "Memórias".

Ei que, no capítulo XII, intitulado "Um Episódio de 1814", Luanda - sempre Luanda, a adorável Luanda - salta das páginas do romance. Veja só o trecho abaixo. Trata-se da descrição de um jantar no Rio de Janeiro da época do Império, para comemorar a derrota de Napoleão Bonaparte.

Um sujeito, ao pé de mim, dava a outro notícia recente dos negros novos, que estavam a vir, segundo cartas que recebera de Loanda, uma carta em que o sobrinho lhe dizia ter já negociado cerca de quarenta cabeças, e outra carta em que... Trazia-as justamente na algibeira, mas não as podia ler naquela ocasião. O que afiançava é que podíamos contar, só nessa viagem, uns cento e vinte negros, pelo menos.

E eu, que já morei nesta cidade negra, já atravessei para lá e para cá a partir dessas duas pontas do Atlântico, fiquei imaginando que mundo era esse, no Rio de Janeiro do séc. 19, onde milhões de angolanos (4,5, para ser mais exato) foram transladados para cá e eram tratados assim, como números.

Abaixo uma fotinha do Museu da Escravatura, na zona sul de Luanda, de onde essas almas partiram para nunca mais voltar.